domingo, 29 de março de 2015

Sobre O Fim De Glee: Eu Vivi

  Glee terminou há uma semana e dois dias atrás e eu ainda não consegui superar.

  Talvez ainda leve muito tempo pra que eu consiga, mas uma coisa eu posso dizer: foi lindo. Não sei ao certo sobre o que vou escrever aqui, se vou falar sobre o episódio, se vou contar como foi ou o que eu achei, simplesmente vou deixar fluir. Só queria reservar um espacinho aqui no PunkNDisorderly pra tratar do assunto. Acho que devo isso à eles.

  Conheci Glee em 2010 por causa do cover de Keep Holding On que eles fizeram na primeira temporada. Avril Lavigne era meu ídolo desde 2002, e essa música (composta por ela inclusive) é a minha favorita desde que a ouvi pela primeira vez. Ela me ajudou a passar por vários momentos difíceis, de problemas familiares a bullying na escola. De alguma forma, eu não consigo ter outra música favorita. Já tentei - The Words da Christina Perri e Roots Before Branches do RoomForTwo foram as principais candidatas - mas no fim, não consigo largar dela. Talvez eu tatue o nome algum dia. Não, com certeza em algum momento eu vou tatuar. Mas continuando, vi o primeiro cd de Glee - Glee: The Music, Volume 1 - vendendo nas Lojas Americanas e como sempre, fiquei lendo o tracklist pra saber do que se tratava. Nessa época eu não conhecia a série ainda, mas ver o título de Keep Holding On ali me fez pesquisar sobre. Encontrei o download da música e me apaixonei pela versão deles. Logo após isso, Glee foi ficando mais conhecido e mais versões de músicas chegavam até mim. Halo/Halking On Sunshine, Jar Of Hearts, Empire State Of Mind, Take A Bow e é claro, Don't Stop Believin' foram as que mais me chamaram a atenção a princípio. Eu lembro que pensava: eles com certeza têm talento. Demorou um pouco até eu começar a assistir, e mesmo assim, eu assistia apenas episódios aleatórios. Lembro que eu não curtia tanto porque achava que era tudo apenas edição de estúdio, que eles não tinham aquele talento todo, que não cantavam ao vivo, até tinha um certo "preconceito" com a voz da Lea (Michele), achava editada demais, por vezes até chata. Mal sabia eu o quanto essa mulher se tornaria importante pra mim futuramente, e não só ela, mas fundamentalmente ela e seu personagem na série.


Keep Holding On

  
  Algum tempo depois, eu voltei de viagem do lugar em que sempre sonhei em construir minha vida e estava completamente doente. Emocionalmente e fisicamente. Meu espírito estava quebrado, minha vontade de viver se esvaindo. Se o texto está dramático, nem queiram imaginar como foi na realidade. Eu não conseguia mais viver. Não queria. Não parava em um emprego, faltava minhas aulas, e cheguei a considerar medidas bem extremas, como conseguir falsificar um atestado médico pra comprar Valium e fazer sabe Deus lá o que depois. Felizmente, eu sempre fui muito covarde pra realmente tomar tais medidas. Até mesmo nas vezes que fugi de casa, desisti e voltei, lá nas minhas épocas de 14/15 anos. Mas chega um ponto em que você desiste de tudo. Desiste até de desistir. Eu cansei de tudo que eu tinha ao meu redor. Cansei de me cansar. Cansei de desistir de mim, e naquela época, eu só queria me esconder debaixo da cama de um algum quarto escuro e ficar ali pra sempre. Era MUITA dor. Cheguei à um ponto em que ninguém conseguia me ajudar. Nem mesmo eu. Quando se é um sonhador, quando se vive de sonhos, qualquer decepção pode te levar pro túmulo, e confesso que jamais, NADA doeu tanto quanto sentir o meu sonho, que tenho desde que me entendo por gente, que estava na palma da minhas mãos de repente sumir diante dos meus olhos. 2014 foi provavelmente o pior, o mais desgraçado, doloroso, desesperador, agonizante e o mais sombrio ano de toda a minha vida, exceto por apenas um detalhe: eu comecei a assistir Glee pra valer.

  Tinha começado num emprego novo quando achei Glee no Netflix. "4 temporadas? Pra quem nunca viu tudo completo deve bastar". Comecei a assistir e logo no primeiro episódio já chorei com a performance de Don't Stop Believin'. Sou louco por Journey e esse cover deles nem era novidade pra mim, mas eu nunca havia visto a performance em si e não sabia o porquê do Finn (Cory Monteith) escolher essa música para o Clube cantar, e enfim, tudo isso me emocionou muito. Terminei o episódio chorando junto com o Mr. Schue (Matthew Morrison) [risos]. A partir daí fui me apaixonando gradativamente pela série e pelos personagens, depois pelo cast. Sobre as músicas nem preciso comentar, já gostava delas antes mesmo de começar a assistir. O mais interessante sobre séries é que dependendo de como você é e como você lida com a vida, elas mudam você. Foi assim com Glee.

  A cada episódio que passava, eu via a mim mesmo em Rachel Berry (Lea Michele). Seus sonhos, seus objetivos, suas falhas, seus triunfos. Ela se parecia comigo em tudo. Ou eu me parecia com ela, não sei. Eu sei que por causa de Glee e principalmente de Rachel Berry eu finalmente consegui me encontrar na época em que eu mais estive perdido. A cada vitória deles, ou dela melhor falando, eu vibrava. A cada derrota, eu chorava. E a cada lição por ela aprendida eu levava para a minha vida pessoal, até que chegou um ponto em que eu simplesmente entendi o que eu tinha que fazer pra conseguir as coisas que eu quero. Consegui avançar quando estava estagnado, consegui voltar a sonhar de novo e abrir meus horizontes para tudo aquilo que eu mais amava e que só estava aqui, dentro de mim, adormecido, esperando a hora certa de despertar. Agora eu tenho novos objetivos, novas metas, novos caminhos a seguir que provavelmente me levarão à conquista daqueles velhos sonhos da infância que ainda estão aqui, gritando pra serem realizados. Muito pessoal pra eu contar aqui quais são exatamente, até porque sonhos não se contam. Você os vive, simplesmente. Com Glee, eu aprendi que você precisa encontrar o prazer na jornada, e não no objetivo. Pra no fim, poder olhar pra trás e dizer "É, eu fiz tudo. EU VIVI." Graças à Glee eu reencontrei meu caminho e consegui forças pra sair de baixo da cama daquele quarto escuro. Graças à Glee eu encontrei meu motivo de novo. E essa é a razão pela qual muitos não entendem o quanto o fim da série foi simplesmente devastador pra mim.


Minha versão favorita de Don't Stop Believin'


    Glee foi a única série que eu acompanhei ao vivo, pelo menos essa sexta temporada. Eu tenho o costume de assistir depois que a temporada toda é lançada, assim não preciso esperar, mas como essa era a última temporada, achei válido acompanhar. Assisti todos os episódios desde o início em Janeiro, reservei todas as minhas Sextas-Feiras só pra isso, evitei de sair, e um pouco depois de eu voltar a trabalhar ainda dava pra chegar em casa correndo e assistir, porque o stream era muito tarde. Mas aí o horário de verão dos EUA mudou e eu não podia mais assistir porque não dava tempo de chegar em casa na hora. Já começou a me doer daí. A partir do episódio 9 eu já precisei fazer download porque não conseguia mais assistir ao vivo. Foi completamente frustrante. Eu ainda tinha que pensar num plano pra conseguir assistir a Series Finale. Por fim, com muito sacrifício porque trabalho numa loja pequena, consegui trocar de turno com meu colega nos últimos segundos, e me preparei pra assistir o final. Mas é claro, como tudo na minha vida precisa dar errado, o stream não tava pegando, então tive que assistir aos dois últimos episódios travando. Mal consegui ouvir as músicas. Mas a reação foi a que eu esperava: choro, frustração, tristeza. Começando pelo episódio "2009", em que o Cory apareceu e foi lançada uma versão remasterizada de Don't Stop Believin' da primeira temporada [Se você estava fora do planeta nos últimos dois anos, o ator faleceu em 13 de Julho de 2013, deixando todos os fãs abalados, inclusive a mim que nem era fã da série na época]. Quase que não respirei, parecia um ataque de asma [risos]. Mas era uma dor que já estava presa aqui há muito tempo, e eu precisava me livrar dela. Acho que só fiquei tão devastado com a morte de um ator quando meu favorito da época, Heath Ledger, também faleceu e pelo mesmo motivo. Logo depois veio o último episódio, e eu não poderia imaginar um título melhor para o mesmo: "Dreams Come True", literalmente, Sonhos Se Realizam, o maior lema que já carreguei em toda a minha vida. Os desfechos foram dignos. É claro, ficou aquela sensação de vazio porque era para Finn Hudson estar ali também. Mas ainda assim eu gostei. Acho que nem tudo pode ser do jeito que nós queremos, mas existe sempre um caminho para reencontrarmos a felicidade, se persistirmos e não pararmos de acreditar. Nesse pouco tempo - relativamente pouco, comparado aos fãs que acompanhavam desde o very first episódio - eu puder ver minha Rachel Berry crescer e se tornar a pessoa que esperava. Não exatamente do jeito que esperava. Muitas lutas foram perdidas, muita dor foi sentida e muitas lágrimas foram derramadas. Quando você sofre você muda, é automático, nunca é a mesma pessoa de antes. Mas mudanças nem sempre são pro nosso mal. Elas nos fazem crescer. E como a mesma Rachel/Lea cantou na última canção original lançada pela série, composta pelo ator do personagem Blaine Anderson, Darren Criss, "Apesar de todas as batalhas que nós perdemos ou talvez vencemos, eu nunca parei de acreditar nas palavras que nós cantamos".




  Acho que no fim das contas, é sobre isso que se trata a vida. Não importa o que vier, ou o que acontecer, você não pode deixar de acreditar, porque no final, é isso que vai fazer valer a pena levar contigo os momentos que você viveu, sejam eles bons ou ruins. Batalhas perdidas ou ganhas. Eu sinto que ainda nem comecei a crescer e se o Universo me permitir, ainda tenho muito a viver, aprender e fazer. A história de Rachel Berry e dos estudantes da McKinley High foi apenas um capítulo do livro da vida de todos que a série tocou o coração. Quando comecei a assistir Glee, eu acreditava que fazer parte de algo especial nos tornava especial, e isso me deprimia um pouco, porque na época eu não fazia parte de nada que fosse especial. Eu odiava meu trabalho, odiava meu curso, odiava minha vida, e principalmente, odiava quem eu era. Mas depois que acabou, aprendi mais uma lição com eles: você não precisa fazer parte de algo especial para ser especial. ALGO É ESPECIAL PORQUE VOCÊ FAZ PARTE. Graças a Glee eu consegui mudar um pouco - MUITO, na verdade - meus pensamentos destrutivos e consegui enxergar beleza nas pequenas coisas. Na verdade, eles sempre dão um jeito de mostrar que todos tem seu valor. E como diz a música, o tempo que eu tive com Glee eu vou guardar pra sempre.


Minha tatuagem, feita um dia antes do lançamento do último episódio


  No fim, parece que vivemos uma vida inteira com todos os personagens, as histórias, as músicas, as performances. E vivemos. E viveremos muito mais. Digo isso à todas as pessoas que não só acompanharam a série até o fim, mas todas aquelas que estão lendo isso e perseguem um sonho grande. Não parem de acreditar. Não desistam. Sonhos se realizam, eu sou a prova viva disso porque já realizei parte dos meus. Grande parte de conseguir algo é a lutar por ele. É onde você encontra mais contentamento consigo mesmo. Então lute. Faça. Persiga. Pra no final, quando chegar o momento, você poder olhar pra trás e ver que aproveitou todos os segundos que o mundo te deu, que viu todos os lugares que precisava ver. Pra você eu deixo essa mensagem. "Espero que quando chegar o momento, você diga: eu fiz tudo". Que quando você olhar pra trás, assim como os personagens, o cast, e todos os fãs de Glee, você perceba que viveu




2 comentários:

  1. Já no título da sua postagem já sabia que ia ser um texto lindo! Agradeço a você por ter insistido tanto para que eu assistisse Glee. Sei que fui resistente, mas estou muito feliz por ter feito parte da galera que acompanhou a série, mesmo eu só tendo conseguido "sincronizar" na última temporada, porém reafirmo: estou muito feliz por ter vivido isso. Glee não só mostra para seguir nossos sonhos, mas também fala de respeito ao próximo, de respeitar as diferenças de cada um. Ninguém é melhor que ninguém. We all look the same in the dark, como diz uma música do McFLY. O final do Will e da Rachel me emocionaram mais, pois foram meus personagens preferidos desde o início. Não teria conseguido imaginar um final melhor pra eles. E acho que o final da série foi perfeito, nem tem o que falar. Triste porque acabou, mas satisfeita como fã por ter visto que no final eles evoluíram e tiveram um final digno. É isso.

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